segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Arquivos de Clínica Ampliada - Arte como forma de tratamento


Grupo de sexta feira- em uma época de saída de pacientes e entrada de novos pacientes.
Propus um desenho coletivo. Comentários como: Não sei desenhar sou péssima.
Começaram timidamente , até irem se integrando e construindo o desenho coletivo.


Diziam falta tal coisa o fulano pode fazer, assim surgiu a construção cada um colocando um elemento feito por eles.

Alguns pontos surgiram: Preso a padrões pré-estabelecidos.

O que fazem quando esses padrões de alguma forma ficaram muito distantes de serem atingidos
Como construir seus próprios. (se puderem pintar uma casa própria não a estabelecida pela maioria. Não seria
mais interessante e mais possível?
Na sala há um quadro de um artista famoso - Gustavo Rosa. Percebem após com a ajuda da terapeuta. A liberdade de criação do artista, pouco preocupado em desenhar um pássaro fiel a um modelo real. As pinceladas aparentes, e a mistura das cores mostram como essa criação foi possível a partir de um despojamento de modelos pré- estabelecidos

Fizeram questão de colocarem o trabalho do grupo ao lado do trabalho do Gustavo Rosa. Como uma possibilidade de algo também construído preso ainda a conceitos estabelecidos mas com desejo de criar os seus próprios.

OFICINA DE MEMÓRIA - Escritora Neta Mello

A Oficina de Memória foi um encontro de membros da Unifesp – Escola Paulista de Medicina.
Aconteceu na Praça Viva no dia 25 de setembro de 2007. Marcada para as 12 horas, começou com alguns funcionários e ex-funcionários convidados pela equipe do Nasf e aos poucos, foi reunindo pessoas que passam pelo local e se interessaram pela oficina.

Histórias de vida de gente que faz parte da imensa comunidade da “Escola” como todos preferem chamar a instituição.

Os participantes afirmaram que sentem falta de um espaço que resgate o vínculo afetivo com a instituição. A enorme comunidade, espalhada pelas casinhas do bairro, poderia manter espaços de convívio e troca de experiências. O “cuidar dos cuidadores” evidenciado pelo trabalho do PQV, pode ser o início dessa proposta.

Márcia Regina, do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde e coordenadora da pesquisa dos 75 anos da escola, falou sobre o projeto em fase de conclusão – são 75 depoimentos de funcionários, ex-alunos, professores gravados em vídeo e que farão parte do livro comemorativo à data.

As histórias contadas na oficina serão encaminhadas para o centro e poderão enriquecer o conteúdo do Museu. Alguns participantes escreveram experiências vividas na instituição, contaram histórias do “pertencimento” e da dificuldade de preservação dos relatos. “Seu” Macedo, funcionário mais antigo (desde 1937) contou para o grupo que entrou dois anos antes da formatura da primeira turma do curso de Medicina, em 1939. Ficou evidente que relatos como esse são fundamentais para que se possa divulgar a história da instituição
A preservação da memória não pode ser vista apenas como saudosismo, idéia de que o passado foi melhor do que o presente – ela é necessária para se compreender novos rumos e novas estruturas que se pretendem criar. A base de toda instituição está nas pessoas, nos seres humanos que a construíram e que se envolveram pelo trabalho de toda uma comunidade. Sem esse resgate, as instituições perdem sentido.

Agradeço a Nadia Pacheco pelo convite para oficina. Meu trabalho como historiadora, cronista e escritora tem sido pautado pela preservação da memória. Numa sociedade que “descarta” e “deleta” a História, precisamos enfatizar, pela educação continuada, o valor de cada indivíduo. Talvez por isso a Unifesp seja chamada carinhosamente de “Escola”.

Neta Mello

O ponto de Vista Psi sobre a Oficina de Memória

O projeto oficina de memória, além de resgatar a história dos funcionários da Escola Paulista de Medicina, e junto com isso, o próprio memorial da instituição, traz em seu bojo, as diversas manifestações da subjetividade desses funcionários.

Quero dizer que através desse recurso, pudemos ter acesso á subjetividade de cada um dos participantes, a partir do momento em que contar a sua história representa entrar em contato com o próprio fato de ser sujeito atuante dessa história.

Quando falo de sujeito refiro-me a alguém capaz de pensar, decidir e atuar por conta própria, assim partindo-se desse pressuposto, a subjetividade engloba tudo que é próprio da condição de ser sujeito, isto é capacidades sensoriais, afetivas e imaginativas, envolvidas nos processos de perceber compreender, decidir e agir.
No nosso século, há uma valorização da autonomia, da subjetividade, emergindo como um novo paradigma, uma nova forma de se representar a relação entre sujeito e objeto.




Dessa forma, contar as histórias vividas por cada um foi a manifestação mais evidente do seu espaço íntimo (mundo interno) e como ele se relaciona com o mundo social(mundo externo), resultando tanto nas marcas singulares da formação do sujeito, quanto na construção de crenças e valores compartilhados pelo cultural e que vão fazer parte dessa experiência histórica.
Podemos observar isso a partir do relato de Marina Medeiros quando nos conta que : “ Diziam que quando aparecia um urubu no telhado do prédio do museu, é
porque vai morrer alguém da Escola. Rezei muito, porque apareceu um urubu

e o Dr. Marcelino, que era meu amigo, estava muito doente, pensei , então que era ele que ia morrer, mas morreu um outro médico, no lugar dele, com quem não tinha muito conhecimento.”

Outro relato, também igualmente interessante é o de Cecília ao nos contar sobre o
seu primeiro plantão no Pronto Socorro:

“ Meu primeiro plantão foi na sala de emergência, há 17 anos atrás e era o primeiro plantão do residente Dr. André, hoje bem conceituado na sua disciplina. Só que não imaginávamos que estávamos iniciando eu e ele. Foi muito engraçado, porque ele confiando que eu poderia ajudá-lo e eu achando o mesmo, que ele poderia me ajudar. Depois percebemos que tudo aquilo era novo para nós dois, que estávamos na mesma condição. Parece que isso nós uniu mais, pois tínhamos
que atender e dar conta do recado. Até hoje lembramos disso como algo que foi muito marcante. Estávamos no mesmo barco, só que ele médico e eu auxiliar”

Pudemos também ouvir as histórias do Sr. Macedo, patrimônio vivo da história da Escola Paulista de Medicina, pois a Escola foi fundada em 1933 e ele está lá desde de 1937. Conta com muita graça que todos os seus amigos estão esperando por ele lá em cima , quer dizer com isso, que é o último que sobrou, pois todos já se foram. Percebo que, embora fale assim, demonstra muita vivacidade e envolvimento com o trabalho que por vezes chega a se confundir com a sua própria história de vida.

Por fim, pudemos ainda observar que essa experiência de contar as suas histórias , foi de uma riqueza única para essas pessoas, que puderam ter essas histórias validadas por um outro que as escuta.

Um comentário:

Patricia Guerra disse...

Amiga vc é f...
sensacional.

Essa passagem: "Quero dizer que através desse recurso, pudemos ter acesso á subjetividade de cada um dos participantes, a partir do momento em que contar a sua história representa entrar em contato com o próprio fato de ser sujeito atuante dessa história."

... está diretamente relacionada com o post q escrevi hoje. http://patstarland.blogspot.com/2009/09/folhetim.html

Depois falamos sobre isso.
Bjo amiga querida