sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lendo... (notas para artigo)

Balada do Cárcere

de Reading


... Percebo agora que a dor, sendo a suprema emoção de que o homem é capaz, é ao mesmo tempo o tipo e o teste de toda a grande Arte. Aquilo que o artista procura constantemente é aquele modo de existência no qual a alma e o corpo são um e indivisíveis, no qual o exterior exprime o interior, no qual a Forma se revela.

Não há muitos dessa existência; a juventude e as artes preocupadas com a juventude podem servir-nos de modelo num determinado momento; noutro momento, podemos gostar de pensar que, em sua sutileza e sensibilidade de impressão, em sua sugestão de um espírito que lida com coisas exteriores e que faz da terra e do ar, e do vapor e da cidade, sua veste, e na mórbida simpatia de seus humores, de seus tons e cores, a moderna arte da paisagem realiza para nós, pictoricamente, aquilo que foi realizado pelos gregos com tão plástica perfeição. A música, na qual todo sujeito é absorvido pela expressão e não pode ser separado dela, é um exemplo simples daquilo que quero dizer; mas o sofrimento é o tipo último, tanto da Vida como da Arte.


Por trás da Alegria e do Riso, pode haver um temperamento vulgar, duro e insensível. Mas, por trás do Sofrimento, há sempre Sofrimento. Ao contrário do Prazer, a Dor não tem máscaras. A Verdade na Arte não é uma correspondência entre a idéia essencial e a existência acidental; não é uma semelhança de forma e sombra, ou da forma espelhada no cristal à própria forma; não é um eco que vem de um campo vazio, tal como não é o poço de água prateada existente no vale que mostra a Lua à Lua e Narciso à Narciso.

A verdade da Arte é a unidade da coisa consigo mesma: o exterior tornado expressivo do interior; a lama encarnada: a união do corpo com o espírito. Por esta razão, não há verdade que se compare com o sofrimento. Às vezes o sofrimento parece-me ser a única verdade. Outras coisas podem ser ilusões dos olhos ou do apetite, feitas e há dor no nascimento de uma criança ou de uma estrela.
Mais do que isso, há uma intensa e extraordinária realidade no sofrimento. Disse de mim própiro que era uma pessoa que tinha relações simbólicas com a Arte e com a cultura de minha época....

Quando começamos a viver, o que é doce é tão doce para nós, e aquilo que é amargo, tão amargo, tão amargo, que dirigimos, inevitavelmente, todos os nossos desejos para o prazer, e procuramos, não apenas "durante um mês ou dois alimentarmo-nos de mel", mas não experimentar, durante toda a nossa vida, nenhum outro alimento, ignorando entretanto que podemos estar fazendo com que a alma morra de fome...

Oscar Wilde
Wilde,O., Balada do Cárcere de Reading (texto Integral) , Martin Claret, São Paulo, 2007
Pág 77 e 78.

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