DOR, FORMA E BELEZA
(O grito de Munch - Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza. )
No que sentimos de terror, susto e dor , o que há é um vazio representativo, um vazio de forma, um vazio onírico
O terror é correlato da ausência de sonhos.
Freud referia-se a angústias plenas de configurações fantasiosas que habitavam o inconscienteHoje o que predomina é a ausência de objetos oníricos. O sofrimento é muitas vezes vivido como dor, sem sequer ser percebido como habitando o espírito.
São os trajetos do sonho que dão forma a percepção, ao mundo interior e ao mundo externo, do masculino ao feminino, aquilo que está vivo e do que está morto. (A arte tem a mesma função - "pintura")
Tarefa da Psicanálise é trazer sentido à obscuridade, propiciar a criação onde há pobreza de construção estética, o artista é o sonhador da humanidade.
O horror é o máximo de necessidade comunicativa confrontada com o mínimo de capacidade expressiva.
A arte não supre necessidade, no entanto ela é essencial.
Quando atingimos a forma representativa, podemos falar de ANGÚSTIA, MAS NÃO DE DOR, E NEM DE TERROR.
Se não nos acostumamos com a morte, menos ainda o simples fato de existirmos é tranquilo. Viver é, afinal, muito perigoso, e as palavras não dão conta do visível.
Trajeto da dor passa pela forma.
A experiência traumática, dolorosa, do ser humano, uma vez ultrapassado o estágio do horror, é dominada porque admite simbolização. Costuma materializar-se em suportes a que chamamos obras, e são capazes de suscitar a sensação que chamamos de beleza. Beleza terrível em muitos casos!
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